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Boa Páscoa, salve Kardec e ditadura nunca mais!

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Imagem de Jesus feita pela Inteligência Artificial, a partir do Sudário.

Por uma coincidência significativa, hoje, 31 de março de 2024, se encontram três datas. A comemoração da Páscoa cristã, os 155 anos da morte de Kardec e os 60 anos do Golpe militar no Brasil.

Podemos tecer alguma intersecção entre esses fatos? 

Acredito que sim. A Páscoa começa com a ceia final de despedida de Jesus com os amigos na quinta, passando pelo julgamento sumário, num conluio entre fariseus e romanos, seguido de tortura e bárbara execução na cruz e, no terceiro dia, sua aparição aos discípulos. Para os espíritas, não foi uma ressurreição do corpo, mas a materialização do Espírito, como prova da sua imortalidade.

Para muitos cristãos hoje, do campo progressista, tanto católicos, como protestantes e espíritas kardecistas, entende-se essa morte, muito mais do que seu simbolismo religioso de resgate dos pecados humanos pelo sangue de Jesus, como a perseguição a alguém que estava ao lado dos pobres, dos oprimidos, que representava uma ameaça ao poderio romano e judaico, pelo anúncio de um Reino de justiça, igualdade e fraternidade. 

Essa visão de entender Jesus por seu lado ético, de exemplo para a humanidade, de anúncio de um projeto do Reino, e não como um salvador, foi feita por Kardec, no século XIX, seguindo a tradição iluminista, que propunha religião como moralidade e não como instituição dogmática e hierarquizada. 

Ora, a visão do Cristo nessa perspectiva, que é a visão de uma teologia da Libertação, de um Herculano Pires no seu livro O Reino, que enfatiza sua postura humanista, acolhedora das dores humanas, de que participou, e propositiva de novas relações igualitárias e fraternas, contrasta radicalmente com todo o discurso da extrema direita, essa que prega ditaduras, torturas, opressões e morte – muitas vezes em nome do próprio Jesus.

E é de uma ditadura dessas que nos lembramos hoje contritos, tristes e indignados, promovida no Brasil por militares, empresários, elites, todos apoiados pelo império dos EUA. E é de uma ditadura dessas que nos livramos no dia 8 de janeiro de 23, por muita sorte, por algumas resistências, e também porque naquele momento, os EUA não tinham interesse político nisso e alguns de seus representantes mandaram recado que não iriam apoiar. 

Essa ditadura que o inominável, inelegível e futuro habitante da Papuda, louvou sempre na pessoa do abominável Ustra, que torturava mulheres grávidas e que o dito cujo mencionou elogiosamente no impeachment da Dilma – um golpe também, e esse muito bem apoiado pelos norte-americanos. Se nesse dia, como exigia a Lei, esse homem tivesse sido caçado e preso, por apologia à tortura, teríamos economizado muitas dores e lágrimas nos últimos anos. 

Nesses 60 anos de memória inapagável do Golpe de 64, o governo Lula impediu oficialmente as comemorações favoráveis a esse lamentável evento histórico – e fez muito bem – mas também recomendou um incômodo e inadmissível silêncio em atos oficiais para relembrar mortos políticos, muitos até hoje sem sepultamento, e todas as tragédias provocadas por uma violência brutal, principalmente nos chamados “anos de chumbo”. 

Infelizmente, voltando a Kardec, muitos espíritas, como de resto muitos católicos e protestantes, apoiaram tanto a ditadura de 1964, como a quase instalação de um golpe em 2023. Conservadores, defensores de violências políticas, em completa incoerência com o Mestre a quem pretendem seguir, estão presentes em todas as dominações. No caso dos espíritas, não estão apenas contrariando Jesus, que consideram também seu mestre, mas o próprio Kardec, que defendia a liberdade de pensamento, a fraternidade universal e a não violência.

De incoerência a traição dos princípios essenciais das grandes tradições espirituais é que são feitos também esses momentos tenebrosos de sufocamento da liberdade e da justiça e por isso mesmo não podemos esquecer a história, sempre uma grande mestra. Ditadura, nunca mais!


Diário da Mama 10 – A caminho da cura, com ansiedade política

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Fiquei um tanto de tempo sem escrever, porque melhorei muito e estou trabalhando o quanto posso (será que já poderia? Mas não há como!!). Segundo a avaliação das médicas que me acompanham, o resultado foi brilhante! De fato, de 5 cm que tinha o tumor, reduziu-se à insignificância de 4 mm e esse pedacinho será retirado numa cirurgia, aparentemente tranquila, que farei agora, dia 3 de novembro.

Atribuo esse resultado à competência da equipe do AC Camargo, mas igualmente à quantidade e sinceridade das orações que recebi de toda parte, de todas as religiões e não-religiões, e também às orações que eu mesma fiz. Durante todas as 8 aplicações de químio, estive sempre em estado de prece, meditação e serenidade, ouvindo música e atravessei tudo sem maiores complicações.

Engraçado que quando iniciamos um pedaço difícil, antes de pisar o pé no processo, a ansiedade nos tortura. Depois que pisamos na travessia, a coisa parece mais fácil, apesar dos impactos. Depois que passou, a impressão é que não foi quase nada. Tirei de letra.

No último dia da químio, fiz questão de homenagear a equipe do 12º andar da R. Pires da Mota. Muita competência aliada a muito humanismo. Li em voz alta a poesia abaixo e cantei meu spiritual predileto Swing Low, Sweet Charriot.

 

Agradecimento

 

Que melhor definição

De competência e eficiência

Do que a perfeita união

Entre o amor e a ciência?

 

Só a técnica não basta

Para cuidar e curar

Quando a doença nefasta

Chega pra nos visitar!

 

E aqui nesse AC Camargo

Humanismo é que não falta

Se a químio dá gosto amargo

Gentileza aos olhos salta!

 

Assim, durante a jornada

Que nos abate e enfraquece

Me senti aconchegada

No afeto que robustece!

 

Só posso dizer, portanto,

Nesse momento final

Muito obrigada por tanto

Me despeço em alto astral!

 

 

Mas há algo de que não posso me furtar de comentar. Concomitante com meu processo pessoal, há um pesadelo que estamos vivendo há anos no Brasil e que agora se agravou, no momento das eleições: o avanço da extrema-direita, violenta, opressora e que tomou conta de quase 50% da população brasileira.

A multiplicação dos discursos de ódio, de atos de violência, inclusive com mortes, tem deixado muita gente em estado de depressão e ansiedade aguda. A fome que voltou a se instalar que, no governo Lula, havia desaparecido do cenário nacional. O desmatamento maciço da Amazônia que ameaça não só o Brasil, mas o mundo – e por isso (e por outras razões também) artistas, pensadores e políticos de toda parte do planeta estão apoiando Lula para presidente. Os milhares de brasileiros que podiam não ter morrido se o inominável tivesse gerido a pandemia com responsabilidade, empatia e sem negacionismo. E a corrupção maciça que se fez corriqueira, assombrosa, como nunca vista (mas muitos não querem votar no “Lula ladrão”!!! Isso tudo nos atola em desânimo e ansiedade.

Não é possível passar psiquicamente incólume diante de uma situação de tanta gravidade, com o risco de perdermos o que nos resta de democracia e mergulharmos o país numa autocracia, numa teocracia, numa ditadura…

Diante disso, nossos problemas pessoais perdem o peso, porque há tantos sofrendo a injustiça, a violência, a fome e, sobretudo, perdendo os sonhos e a motivação para viver e lutar.

Assim, apesar de ainda me sentir doente, ainda a caminho de uma cura, que certamente virá completa lá por fevereiro de 2023, estou procurando me manifestar nas redes, no contato direto com as pessoas, para garantirmos e retirada desse desgoverno do país. Sei que isso não resolve os imensos problemas que teremos que enfrentar. É apenas um outro recomeço.

Mas tenho meditado muito em como podemos nos próximos anos educar o povo, acabar com o analfabetismo político, que proporciona toda essa manipulação e munir os brasileiros de uma leitura mais lúcida do mundo. Terá de ser um mutirão para desenraizarmos o bolsonarismo, que esse sim, é um câncer que se instalou na alma brasileira, provocando a cisão das famílias, a ruptura entre amigos e a ameaça de morte, o exílio e até o assassinato de quem não aceita esse fascismo tupiniquim.

Assim, quero ficar boa logo, porque a luta continua e jamais desistiremos, insistindo nos ideais de paz, justiça e fraternidade e resistindo aos retrocessos destrutivos que nos ameaçam.