Milhões de anos construíram a tessitura delicada e forte da floresta. Bastarão algumas empreiteiras ávidas de dinheiro, para ferir a mata e atingir mais uma vez o pulmão do mundo, dizimando pássaros e peixes.
Centenas de povos e comunidades se alimentam há séculos da seiva fecunda do rio, tirando alimento pacífico da natureza e cuidando para que ela esteja lá, sempre bela e viva. Bastará um punhado de empresas nacionais e internacionais, sob a guarda de um governo (como todos os outros) rendido aos interesses econômicos desumanos, para desterrar as pessoas ribeirinhas e para acabar com o rio, que é fonte de vida.
Os donos antigos da terra, os indígenas, choram e clamam, ameaçam e lutam, vão para fora do Brasil e reivindicam, como o grande Raoni – mas nada acontece. Belo Monte avança, implacável. Filmes, documentários, entrevistas, estudos, militâncias de brasileiros e estrangeiros mostram a desgraça que se arma, o desrespeito à vida, à natureza, aos direitos fundamentais dos povos e das pessoas – mas o governo não escuta, os políticos da região, com faces boçais e frases de efeito, repetem discursos vazios de progresso para a região – como se essa noção de progresso, depredador da natureza e do ser humano já não estivesse sendo criticada, questionada e desqualificada há décadas, por ambientalistas, por pacifistas, por defensores dos direitos humanos!
O rio Xingu vai morrer, inundado, afogado pelas próprias águas, sufocado em alguns lugares, estrangulado pela ganância de empreiteiras. As pessoas que lutarem para defender a natureza e sua fonte de sobrevivência também morrerão, como morreram já tantos ambientalistas, defensores dos índios, missionários e militantes… A Amazônia vai pouco a pouco se extinguir, porque, como explicam os que entendem da coisa, a usina Belo Monte ficará parada pelo menos 4 meses ao ano (o que já não justificaria a sua construção) e então serão necessárias outras barragens, outras inundações, outras expulsões de povos à beira, outras perdas irreparáveis nas matas.
E as vozes do povo da terra, a vozes das pessoas sensíveis ao direito do outro e à natureza, mesmo se postas em várias línguas, em vários canais na rede, ficam perdidas, cobertas pelo som das escavadeiras, que já estão mutilando a terra.
O problema desse modelo econômico capitalista, predador, desumano, sem medida do bem e do mal, é que as pessoas são compradas. Os que poderiam se opor se vendem e apoiam. Os que se opõem sem nenhum poder, são calados ou mortos.
A democracia dos países que se dizem democráticos é uma farsa, um engodo em que a população participa como marionete, pensando que está decidindo algo, mas é apenas manipulada pelo sistema econômico, pela mídia e pelos governos eleitos. Neste ponto, não há diferença entre o governo militar que construiu Tucuruí e os governos petistas que estão construindo Jirau ou Belo Monte. De direita ou esquerda, militares ou ex-militantes contra a ditadura, todos têm a mesma concepção de progresso: predador da natureza, com desprezo pelos custos ambientais e sociais. Todos têm o mesmo comprometimento: atender aos interesses econômicos de investidores nacionais e internacionais. Porque qualquer governo no mundo só se conquista e se mantém se submetendo a esses interesses. Os governos eleitos nada mandam, apenas dançam miudinho diante das corporações, dos bancos, do sistema financeiro internacional. Lembro-me ainda da primeira grande decepção que tive com o Lula (embora não tenha votado nele e em nenhum outro): quando ele cedeu tudo o que podia para os interesses agressivos da Monsanto.
O sistema engole governos, ongs, passa por cima dos direitos fundamentais dos seres humanos, arrasa com a natureza e vai sufocar o pulmão do mundo, a Amazônia. Mas o sistema não é uma entidade abstrata: ele é feito de seres humanos, que o inventaram, que o servem, que colaboram com ele, que, sobretudo, se vendem para ele.
Então, se queremos ter alguma esperança de mudança, temos que ensinar às novas gerações, jamais se venderem, jamais cederem em princípios fundamentais, por interesse de ganho e ambição de poder. Como fazer isso através da educação é assunto para outro texto, mas podemos pelo menos dizer aqui que os mais velhos precisam exemplificar.
Mas até que novas gerações assumam a direção do mundo, esperemos que de uma forma mais humana, solidária e ecológica, a Amazônia terá morrido, dilacerada por plantações de extração de celulose, por usinas hidrelétricas, por pastos para gado…
Choremos pois, porque não acredito que a Dilma ou quem quer que seja, vá ouvir a voz do povo que clama e vá parar Belo Monte! Os índios prometem guerrear! Mas que podem eles contra o exército? Choremos!
Assistam ao filme abaixo e sintam toda a tragédia!