Arquivo do mês: dezembro 2012

Os números de 2012

Os duendes de estatísticas do WordPress.com prepararam um relatório para o ano de 2012 deste blog.

Aqui está um resumo:

4,329 films were submitted to the 2012 Cannes Film Festival. This blog had 27.000 views in 2012. If each view were a film, this blog would power 6 Film Festivals

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Meditações e prece de Natal

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É verdade que, historicamente, o Natal não é a data exata do nascimento de Jesus. É verdade que a narrativa da manjedoura, dos reis magos, da estrela de Belém, do descendente de Davi é uma história mítica, arranjada para provar que Jesus era o Messias esperado pelos judeus. Não houve recenseamento, não foi preciso que o carpinteiro José se deslocasse de Nazaré e fosse com sua esposa se apresentar em Belém. Mesmo porque se os romanos fizessem um recenseamento do seu Império, não lhes interessaria contar os judeus pela sua descendência. (Na história bíblica, José como descendente de Davi teria de se apresentar para o recenseamento em Belém.)

Provavelmente, Jesus nasceu em Nazaré, viveu tranquilamente em sua aldeia, aprendeu o ofício de seu pai. Não precisou buscar refúgio no Egito. Mas tudo isso apenas aumenta sua grandeza: um filho de carpinteiro, crescido numa aldeia obscura, num recanto do Império romano, ergueu a voz de sua mensagem e transformou o mundo.

É verdade também que o Natal se tornou no mundo cristão uma data comercial, para compra de presentes, para movimentar o mercado, para aguçar o consumo. Que o seu personagem anda longe dos pensamentos, distante dos corações, apagado dos atos da maioria das pessoas.

É verdade, é verdade.

Mas é verdade também que o Natal tem uma poesia toda sua…o presépio pode ser mítico, mas é um símbolo de humildade e acolhimento. A data pode não ser a correta, mas como ao longo dos séculos muitos pensaram em Jesus nesse dia e procuraram conexão com ele, a noite natalina ficou impregnada de devoção e alegria.

A verdade é que a figura de Jesus paira acima dos séculos, acima dos mitos, acima do comércio, emanando amor em seu olhar, que abarca o mundo inteiro.

É verdade que a sua mensagem de paz e fraternidade permanece insuperável, como um apelo permanente aos corações de boa vontade, cristãos ou não cristãos.

Seu coração amoroso vibra ainda pela humanidade e nos acompanha de longe e de perto.

Por isso, dedico como sempre um poema de Natal ao Mestre carpinteiro, ao Mestre de Nazaré, ao Mestre da humildade e da paz!

Prece de Natal
 
Podem os homens da terra
Semear flores de sangue
Mas tua paz invisível medra
Na alma do povo exangue…
 
Podem as criaturas
Retalhar a natureza
Acinzentar o horizonte
Mas envias sempre uma alma pura
trazendo a delicadeza
de um gesto oculto que cura.
 
Podem os incautos
Mancharem a esperança
Propagarem a maldade
Exaltarem a ganância
Ferirem o coração de uma criança,
Pondo espinhos num coração de mãe.
Mas tu levantas o caído
Amparas o traidor e o traído.
Desfazes toda dureza
E restauras a bonança.
 
O séculos se sucedem
E teus pés percorrem sempre
As pedras de nosso mundo
E semeias de passagem
O sonho de nova paisagem
As lágrimas de amor profundo
Com que nos tocas a vida.
 
Podem os percalços
em minha alma dolorida
fazer sulcos de tristeza,
mas nada pode arrancar
a doçura e a beleza
desse teu macio olhar…
 
Estás sempre aí,
Além, aquém, aqui…
Como rocha milenar
Ancorando nossa esperança
De um reino que não há de acabar…
Estás acima do tempo
Para que façamos dele
Um tecido de estrelas a raiar
 
Podem os fanáticos
Fazer de ti um mito sem rosto,
Um rei de cetro e com gosto
De tirania celeste.
Mas tu ainda nos lavas os pés
E neste gesto nos deste
A glória de muitas fés.
 
Mestre, sábio, sublime irmão,
Estás bem perto de nós
E basta abrir uma brecha
No cansado coração
Para ouvirmos o sussurro de tua voz!
 
Vem aqui, querido Jesus Cristinho
E encontra um lugar, um ninho,
Dentro de nossas casas…
E então teremos asas
Para voar acima dos montes
Abrir azuis horizontes
E enfim, amado amigo,
Sermos assim um contigo!

Crônica pessoal: cheguei aos 50!

Dora Blog

Alcançar meio século, o que isso significa? Não haverá na prática muita diferença entre 49, 50, 51, mas já que se trata de um número bonito, redondo, nada custa tecer algumas reflexões especiais, com cara de metade de um século. Por incrível que pareça, introspecções profundas têm me assaltado por conta dessa aproximação dos 50: avaliações internas, balanços existenciais, recordações dos trechos percorridos, saudades de tempos idos e de pessoas ausentes.

Sou da safra de 62, sagitariana bem assumida e feliz com meu dia 4 de dezembro. Dezembro é um mês que sempre me agradou, um mês festivo, natalino, de final de ciclo!

A primeira coisa que me vem ao coração, todas as vezes que avanço na idade, é que não sou mais a menina precoce, que fui na adolescência, não sou mais a jovem promissora…que provocava elogios. Agora sou eu que me entusiasmo com crianças vivas, com jovens idealistas e conscientes; agora sou eu que procuro esperança nas gerações que estão chegando.

E que sou eu então – aliás, que estou eu então? Nem remotos sinais em meu espírito de cansaço, velhice e desilusão. Se há algo que jamais perdi é a paixão, o ímpeto de agir, o idealismo agudo, que alguns consideram exagerado, porque é um idealismo duro, que não faz concessões. Às vezes, quando falo para jovens desse morno início de século XXI, me vejo mais entusiasmada e eloquente, confiante e otimista do que a maioria deles. O ardor de revoluções (pacíficas, claro) não me abandona jamais.

O que também não perdi em 50 anos é meu coração de criança. Por isso entendo as crianças tão bem, me dou tanto com elas e me sinto tão feliz quando estou com elas! É que não sei mentir, sou sincera ao extremo, sentimental sem limites. Sensibilidade à flor da pele, mediúnica até os ossos.  E lá vem sofrimento nesse mundo individualista, que se esfria cada vez mais, que considera todo sentimento brega, imaturo, tolo… que confunde desapego (virtude cultivada por todos os sábios e homens de espiritualidade) com indiferença individualista e descartabilidade das relações.

Desapego sim é renunciar a status, conforto, a dinheiro, a consumo, por conta de ideias e ideais… Desapego que anda junto de fidelidade a princípios em que acredito e com que jamais negocio. Disso tenho orgulho! Nunca fiz um trabalho que contrariasse a minha consciência, nunca fiz concessões no que considero justo, honesto, bom, elevado e belo.

Não endureci, mesmo com toda a adversidade que qualquer ser humano passa na vida. Não perdi a ternura. Mesmo que alguns zombem disso. Mas há muitos outros que se achegam, gostam de um afago, confortam-se com uma palavra de amor e um colo farto e materno.

Do que mais gosto: crianças, natureza, música, poesia e espiritualidade. Essa sempre foi forte em mim, desde quando fazia preces e já gostava de ouvir mensagens, desde os 5 anos de idade, nas orações em família. A conexão com Deus só aumenta com o tempo, só se depura, só se torna menos palavrosa e mais sentida; menos exterior e mais plena.

O maior patrimônio que acumulei nesses 50 anos de vida: a consciência limpíssima de estar cumprindo meu destino, fazendo o melhor que posso; muitos e profundos e duradouros afetos; muitos livros escritos (e ainda virão outros); muitos ideais erguidos à custa de suor e lágrimas; muitas flores e frutos das sementes semeadas…

A maior dor: as saudades dos que se foram, que aqui estão, mas que não posso tocar; as ingratidões colhidas de pessoas amadas, que se retiraram do meu caminho…

O que espero e quero para o futuro: mais trabalho, mais afetos, mais livros, mais ideais erguidos, semeados e frutificados. Meus amados brilhando, meus amigos à volta, meus alunos se multiplicando… e sempre maior serenidade, dessa que tenho acumulado aos poucos, caminhando para uma velhice de trabalho e paz e uma morte de reencontro, com todos os que me esperam na outra margem da vida.