Escrevo poemas desde menina. Nasci poeta e minha vocação primeira foi a literatura. Mas hoje não se dá mais importância à poesia. Parece que publicar um livro de poemas é falar no vazio, jogar papel fora. Nesses 48 anos de vida, nesses mais de 35 anos de escrita, tenho centenas de poemas escritos, muitos perdidos, outros guardados, outros esquecidos, outros doados… Então, essa é uma oportunidade de divulgar, sem custo, de atrair quem gosta e de oferecer a alma em alguns poemas. A tecnologia e a rede, que parecem coisas tão impessoais e tão frias, dando licença à poesia! Contradições do século!
O bem-te-vi
O bem-te-vi me fala da janela, Canta com voz amarela Na tarde de sol que se esvai… E um ressaibo de saudades me cai Na alma de sentinela. Mãe, infância, jardins, Quintais e tardes sutis São névoas da cor dos jasmins.
Tudo passa e tudo fica Porque a vida se transmuda Com perdas, dores e fins. Mas também se retifica Pois se a matéria se muda, A alma é sempre mais rica E o amor é sempre sem fim. Mística
I
Dá que eu possa encontrar-Te Outra vez Atrás do véu Que cobriu meus olhos de sombras…. E que reveles tua face Em clarão novo Que nunca se esconda… Estou só, diante de mim. Agora só Tu podes Encher a solidão.
II
Atingiram-me os anos E os desenganos Nasceram em mim. Mas vejo que nada merece A aflição da noite Pois cada manhã Abres tuas flores Em meu jardim.
III
Preciso apreender A densidade de teu olhar Para que nada possa Me esvaziar de Ti! E tudo me pareça sempre Como mera flutuação. Pois só em Ti está A paz da permanência.
IV
Tu és rochedo O resto é brinquedo. Tu és paz O resto é fugaz! Tu és luz O resto é cruz. Tu és porto, O resto, desconforto. Tu és lei Do resto nada sei. Tu és futuro O resto é inseguro. Tu és profundo presente O resto logo se desmente. Tu és amoroso Pai, O resto se esvai! Deixa-me ficar Contigo E para o resto não ligo!
V
Meu coração machucado Por mil milênios cansado, Meu coração trapaceiro Que acolhe o vento traiçoeiro Meu coração de criança Que de esmolar não se cansa Meu coração perdulário Que nunca anda no horário. Aquieta-te, por favor, Abranda este teu ardor E vai buscar no Senhor O único e certo amor!
VI
Basta entender que o amor Que se desdobra Que não se cobra Nunca se sente na sobra E na sombra!
Basta saber que o amor Simples como um menino Sutil e fino Se ancora divino Ainda que enjeitado E sem compreensão.
Basta armar-se de amor Desarmar-se de si Semear-se mais alto Compreender mais além, Para que Tu te mostres inteiro Quente, sereno, altaneiro, No coração mais humilde, No mais pequenino caminho!
VII
Mestre, Sou peregrina saudosa Do teu olhar… Estou cansada Ao desfolhar As sombrias ilusões. Queria sentar-me a teus pés, Ouvir tuas palavras mansas De brisas e esperanças E sem mexer meus olhos Postos em ti, Encher-me os refolhos Com tua doçura divina! Pousar meu rosto em teu colo fraterno Como pequena menina E sentir a carícia De teu coração amado Ah! Mestre! Por que tanto nos afastamos de ti… Que tão longos caminhos Para voltar aos carinhos Da tua casa, Nossa morada Nosso final de jornada…
VIII
Quero apenas querer o que Tu queiras Pois teu querer em mim É flor sem beiras. Se torno minha essa vontade Tua, Transmudo-me no que há de divino Em minha alma nua.
Querer o que Tu queres Para mim é fidelidade Mas também cumprimento destemido Do impulso de feliz liberdade… Pois não há possível feito de alegria Se eu não estiver em Tua harmonia.
É no ato de querer e de criar Que me aposso de Tua herança paterna, Que me faço Tua essência materna E me lanço àquilo que sou. Não quero mais me apegar ao chão, Pois querendo o que queres me saberei coração De Tua centelha eterna! O impermanente e o eterno
Quando penso que passo Num momento E depois me refaço Em pensamento;
Quando penso que o passo Que hoje dou Vai me levar sempre além De algum fracasso, Pois de passo a passo É que me faço Mais perto do bem Mais sendo meu alguém;
Quando penso que abraço O ser amado Que me escapa em laço, Mas que deixa em meus dedos Seu traço;
Quando penso em tudo o que passa O que se esgarça E é finito Momentâneo, peregrino… Penso que me faço e me refaço ainda e sempre E sinto que meu coração menino Perdurará no sem tempo No infinito! Divine Sunset
My soul must rest On the colors of this sweet sunset. Be quiet, my glimmering soul, And be full Of your mighty God. Let him enter And behold: This silent sky Will make my sadness go… Deus
Vem uma seiva amarga, Mas tua doçura me farta… Ruge um mar bravio Mas teu silêncio é amavio…
Enche-se o céu de negrumes Mas teus olhares são lumes… Endurecem-se os corações, Mas dás-me suaves rincões…
Nada que em torno se faça Deixará vazia a taça De tua presença em mim.
Quando te encontro aqui dentro Não saio mais do meu centro Num infinito jardim! Paz Passeio pela noite em silêncio E à paz já não falto. As estrelas me chamam para o alto. E o infinito se abre em mim.
Num canto do jardim Recende um casto jasmim E já as torpezas do mundo Não gritam ao fundo. Tudo se aquieta em mim.
Tudo está como deve ser Tudo serve para entretecer A teia calma do viver.
Caminham o vento, o perfume As nuvens, a noite breve E em toda parte há um lume Uma verdade leve Um bem que a alma descreve.
8 agosto, 2011 at 12:49 am
A poesia é como a mãe boa, nos dá colo sem nada perguntar….e nela embalo minhas dores . Quando refeita e inteira tomo coragem e me reinvento. Com a música é a mesma relação…Que seria do homem sem a poesia e sem a música? Com certeza a vida no planeta seria muito pior… Obrigada Dora, por disponibilizar seus talentos.
27 setembro, 2011 at 6:55 pm
Poesias doces, sonoras, digo que sinto a sinceridade delas! Dora, suas poesias nos enriquecem e traduzem nossas almas buscando luz…
14 novembro, 2011 at 10:14 am
A sutileza de suas palavras doces na ciranda dos versos,encantam.Assim como você,desde menina faço poemas,versos e os guardo em gavetas,longe da crítica e da indiferença.A poesia,desliza no papel,voa até as estrelas,beija a lua e retorna ao bojo do coração.Versos para natureza os fíz quando na confraría das borboletas,observei a tenue alma com asas,beijando pétalas.No deslizar da gota tão pequena,desgarrada do temporal,espreguiçar-se na clorofíla.Nos olhos das crianças encontro o oásis dos anjos refletídos em pupilas de todos os matizes.Que bom segredar com vôce o que minhas mãos aliadas ao sentir,escreveram ao longo de minha vída.Me corríja nas consoantes “z e s ” nas palavras.Estudei no matocom mestra dedicadíssima,perdí tempo,subindo em arvores.Que sua vida seja tão bela como um poema.Abraço fraterno amiga.
20 maio, 2012 at 12:42 am
Dora, suas músicas e poemas são Luzes Divinas para nossos espíritos. Você é um ser humano iluminado. Obrigada por nos presentear com este blog. Um abraço.
2 agosto, 2015 at 10:32 pm
Querida Dora, essa é a minha primeira visita em seu blog e gostaria de dizer que estou encantada. Escolhi comentar na página de poesias porque vê-la como opção na página inicial fez meu coração sorrir. OBRIGADA por nos proporcionar sentimentos tão bons através da sua arte e, particularmente, pelo conforto que me traz ao espírito saber da sua seriedade profissional, da grandiosidade de seu trabalho, da sua indizível contribuição para a edução e para a doutrina esclarecedora.
Muita Paz!
3 agosto, 2015 at 9:29 pm
Dora seja abençoada pelo Mestre. Meu espiriio precisava das doces palavras de suas poesias.
16 julho, 2020 at 4:34 pm
São lindas suas poesias. Amo poesia ,gostaria que as coisas que escrevo nas minhas angústias da depressão e do pânico, me ajudassem a pôr o que escrevo em poesia . Coisa que gosto de ler ,mesmo sendo a mesma poesia lida várias vezes , elas se tornam tão mágicas, que o momento nos as verem e interpretá-las de várias formas! Parabéns
17 julho, 2020 at 6:57 pm
Dora, acabei de assistir você no programa do Bial, estou encantada com você! E claro que corri pra te conhecer melhor, estou encantada com a doçura e leveza de suas poesias. Gratidão
18 julho, 2020 at 4:27 pm
Sensibilidade, Emotividade, Espiritualidade… É o que sempre se encontra com Dora Incontri
14 setembro, 2020 at 10:55 am
Dora Incontri belezas de ser humano,sinto-me honrada em conhece-la através dos seus livros de suas poesias,de entrevistas,já pensaram como seria o mundo se tivessemos milhões de Dora Incontri
4 outubro, 2020 at 7:13 pm
Seus poemas são lindos. Eles me levam pra cenas em que se formam e ganham vida e voz vibrante, porém suaves, que acalmam e confortam. Estou procurando o seu poema Ciclos, mas não encontro. Deixo aqui meus augúrios de que nunca lhe falte inspiração para escrever suas pérolas e no-las presentear. Paz.