Arquivo da categoria: Poesia

Poema do menino Jesus

O tecido de noite natalina
É um tecido de estrelas diferentes,
Cobriu o berço da criança divina,
Que veio ao coração de todas as gentes!
 
Criança já sempre anuncia
Novidade, beleza e clarão…
Quanto mais o menino que irradia
O amor que desfaz a escuridão…
 
Menino que menino já sabia
A que vinha, nessa terra de torpezas
E sem julgar, distribui suas belezas,
Semeando imensidões à luz do dia!
 
O menino se fez homem, peregrino
Descalço, à beira do caminho
E acolhe o ser humano ainda tão menino
E de cada coração tira um espinho…
 
Que amor desmedido carrega por nós,
Que se dá, sem medir nem mesmo o sangue?
Que luz sem fim palpita em sua voz
Que ainda nos alcança a alma exangue?
 
Menino-homem, menino mestre,
Doce anjo que se fez terrestre,
olha ainda por nós, tua humanidade,
olha de onde nos esperas, nesta azul eternidade!……

Nossa Senhora da Ternura

Notre Dame de la Tendresse - Sérgio Prata

Controvertida questão, para muitos fechada pela resposta negativa, para outros tantos óbvia pela resposta positiva: devemos orar a Maria? Protestantes, católicos, espíritas – os de tradição cristã – mostram posições diferentes. Para mim, podemos orar a quem nos sentimos ligados pelos laços seculares do coração. Maria representa para milhões de almas, o aconchego divino e materno, a lembrança que reconforta o coração. Mãe atávica, milenar; mãe que representa todas as mães. Sou sim dos oram para Maria, dos que encontram nela a ressonância de Espírito materno, sempre.

Fiz essa oração abaixo em homenagem a um quadro (que está hoje em meu escritório), do artista plástico Sérgio Prata (http://www.sergioprata.com.br/):

 
Nossa Senhora da Ternura
(Notre Dame de la Tendresse)
Maria de Nazaré,
Esteio de nossa fé,
Olhos doces, permanentes,
Estendidos sobre nós!
Olhos agudos, fulgentes,
Que nos atraem a vós!
 
Mãe, de tua boca santa
Flui esta voz que acalanta
A alma cansada e sedenta
Voz que refresca e que cura
E voz que nos apascenta
Fecunda toda secura!
 
Maria, mãe do aconchego,
Senhora, que não renego,
Mãe de toda a humanidade,
Mãe de meu Mestre Jesus!
Teu rendilhado de luz
Sutil, suave, nos cobre!
Teu coração sempre nobre
Nos acolhe com bondade!
Ainda que carreguemos
Andrajos, fel e misérias,
Ainda que te mostremos
Nossas chagas deletérias…
Tuas mãos simples, etéreas
São afago, alívio e paz
Amor que sara e refaz!
 
Maria, mãe da ternura
Perante tua candura
Desmancham-se densas trevas
Pois que visitas e elevas
A mais rude criatura!
 
Como, pois, Mãe de clemência
Dizer algo que agradeça
E humildemente entreteça
Toda a nossa reverência?
Como louvar tua glória,
Que perpassa toda a história,
Mulher vestida de luz,
Que carregaste no ventre
O homem divino da cruz?
 
Maria, ó mãe santíssima,
Só o silêncio é veemente,
E só meu olhar em pranto
Pode ser singelo canto
De minha alma reverente!

Menino Triste

Se nem a lua te dá um olhar de trocado…

                                      

                                          Que queres, menino triste?                                            
que me paras no farol?
Que sonho escuro que viste,
Pois teus olhos não têm sol?

Tua madrasta é a rua,
com seu cimento gelado.
E de noite, nem a lua
te dá um olhar de trocado…

Quem te largou neste mundo,
para catares esmola?
Se roubas, és vagabundo…
Mas quem te roubou a escola?

E quem te arrancou da mão
um brinquedo e uma esperança?
Quem te tirou, sem perdão,
o direito a ser criança?

Tua escola é a calçada,
que freqüentas todo em trapos.
Se o dia não rende nada,
logo apanhas uns sopapos.

Menino, no olhar me imploras
muito mais do que um favor.
Querias que tuas horas
fossem preenchidas de amor!

Mas o que vês são os carros!
Passam depressa, sem dó.
Os sorrisos te são raros.
O Brasil te deixa só.

Minha poesia já chora:
os meninos são milhões.
Será que o povo de agora
perdeu os seus corações?

Vá correndo, minha Musa
pedir ao homem tão duro,
que das riquezas abusa,
que reparta seu futuro!

Poderá haver perdão,
dizei-me vós, Senhor Deus,
para a megera nação
que assim trata os filhos seus?

E a Musa conclama alto,
com resquícios de esperança:
Brasil, não jogues no asfalto
A alma de uma criança!


Manifesto da Criança

Criança, ser de ternura,

Delicado, pequenino

Revela no seu sorriso

A presença do divino!

*

Nas mãozinhas que se estendem

Há um pedido de esperança

Um afago e uma certeza

E um projeto que se lança!

*

Mas quanto se falta ainda

Em respeito e afeto pleno

Às crianças deste mundo

Neste início de milênio!

*

Desde que o Cristo disse

Que o Reino delas seria

Uma epopeia de séculos

Em seu favor se veria!

*

Sem voz, valor ou cuidado

Esquecidas, maltratadas,

Só há pouco foram sentidas

Como pessoas amadas!

*

Descobertas por aqueles

Inspirados em Jesus

Finalmente compreendidas

Como potências de luz!

*

Foram Comenius, Rousseau

Seus grandes reveladores

Pestalozzi e Montessori

E outros mais educadores!

*

Trouxeram à luz a infância

Nas trilhas da educação

Desbravando à humanidade

Caminhos do coração!

*

Mas ainda que violências!

Que mortes em todo mundo!

Que abusos e que maus tratos!

Que vilipêndio profundo!

*

As africanas minguando

As da China escravizadas!

As brasileiras no asfalto!

E as das guerras, massacradas!

*
As que crescem sem um teto,

Sem escola e sem pudor,

As que carecem de tudo

Até de um pouco de amor!…

*

Mesmo as com carro de luxo,

Poderosas e bonitas,

Muitas delas estão sós

Com almas secas e aflitas!

*

E a escola, esse cemitério

Das mentes mais promissoras,

Onde a lousa seca a vida

Nos lábios das professoras!

*

Obrigações sem sentido!

Conhecimento sem nexo!

Depois da escola a TV

Com sangue, consumo e sexo!

*

Crianças feitas adultos

Como nos tempos antigos!

Sem a ternura inocente

Distantes de pais amigos!

*

Ainda o mundo se mostra

Lugar hostil e inseguro

Para muitas dessas almas

Que vêm buscar seu futuro!

*

É preciso ação ativa,

Incessante militância,

A ternura à flor das almas

Para que se salve a infância!

*

Que o olhar de  uma criança

Não se manche de violência!

E que mãos cruéis e impuras

Não lhe roubem a inocência!

*

Que nenhuma voz se altere

Para humilhar esse ser!

Que nenhuma mão se erga

Para ferir e bater!

*

Espalhe-se uma vontade

De aconchego e proteção!

De reverência e carinho

Diálogo e educação!

*

As crianças são sementes

Em plena germinação

E vão perfumar a terra

se amadas de coração!

*

São a esperança que Deus

Empresta ao nosso futuro

Mas só se farão promessa

Se o seu presente for puro!

*

Que cada adulto se faça

Abolicionista ardente

Da escravidão da criança

Neste mundo ainda doente!

*

Liberdade para as almas

Frutificarem no  amor!

Dignidade às crianças

Do Nepal ao Equador!

*

Negras, brancas, amarelas

São todas lindas e iguais!

Só necessitam de mãos

Que lhes dêem fé e paz!

*

O Reino de Deus virá

Sobre esta terra de dor

Só quando não mais houver

Crianças sem pão e amor!

*

Powerpoint deste poema:  Manifesto