Às vezes, argumentos não bastam. Números, fatos, dados objetivos não conseguem abrir caminho na opinião obstinada, que se cristalizou num dogma. Há uma multidão de pessoas, que estão gritando pela redução da maioridade penal. Já argumentei, já mostrei números, artigos interessantes e as pessoas simplesmente não ouvem. Então, estou lançando mão da poesia. Fiz um apelo ao grande poeta Castro Alves, inflamado pelas causas sociais, sobretudo a do escravo. Muitas das crianças e adolescentes, que hoje estão na criminalidade – marginalizadas socialmente, que não tiveram acesso à educação e aos direitos fundamentais do ser humano – são remanescentes históricos da escravidão. Para clamar contra a injustiça, poetemos à Castro Alves!
Que ouço? Reclamam vozes
Rigores e punição
Ventam palavras ferozes
Endurece-se a nação!
Que a cadeia irrevogável
Encarcere o vil bandido
Nada seja perdoável
Brada o povo em alarido!
A mídia esse coro orquestra
Moldando as opiniões!
A demagógica mestra
Que põe na praça os vilões!
Mas quem são os acusados
Por tantos dedos hostis?
Onde estão acobertados
Nesses múltiplos Brasis?
Será aquele que trata
Como escravo um boliviano?
Ou o que infesta de mamata
O Congresso de ano a ano?
Será o que expulsa e que mata
Famílias do Pinheirinho?
Será o que não se retrata
Por torturar num cantinho?
Será talvez o assassino
Da missionária caída?
Ou o que violou um menino
Despedaçando-lhe a vida?
Serão os grandes senhores
De feudos descomunais
De escravidões e de horrores
De tempos coloniais?
Não! Nenhum destes, ó Musa!
Persegue a mídia e a nação!
Nenhum destes que se acusa
Com tanto rigor e agressão!
Querem justiça implacável
Com quem sem justiça nasceu!
Nenhuma lei maleável
A quem nada tem de seu!
Pobre, negro, quem na rua
Teve por casa a calçada,
E sem mãe, de vida nua,
Teve sua alma estuprada!
Aos meninos delinquentes
A punição exemplar!
Eles que ainda sem dentes
Só sabiam apanhar…
Pois apanhem de um padrasto,
Que o pai está na prisão!
Menino, siga o seu rastro,
É o que deseja a nação!
Perpetua-se a violência
Com mais violência e rancor!
Poderá haver decência
Numa nação sem amor?
Meninos querem afeto
Mesmo de armas na mão,
Foi a vida num deserto
Que pôs suas almas no chão!
Ó Musa, chama o poeta
Que cantou a abolição!
E faz que sua voz dileta
Diga por mim: compaixão!
Ao invés de mais cadeias
Que são escolas de crime
Semeemos a mancheias
A educação que redime!
Escolas de liberdade
Em militância no bem!
Justiça, paz, igualdade
Que nada falte a ninguém!
Musas, Deuses, Mestres, Guias!
Poetas de hoje e de além!
Calem-se as vozes sombrias
Cantemos vozes do Bem!
18 maio, 2013 at 7:58 am
Bom dia, Dora! Palavras que tocam cada fibra de nosso coração! Senti a presença do Castro Alves no momento em que lia o poema! São muitos os excluídos e há tanto tempo! E então me lembrei de que o amado Bezerra de Menezes alertou a todos que não bastava libertar os escravos, que era preciso dar apoio a eles, oferecer-lhe escola, saúde, moradia, enfim, uma vida decente, para que não se perpetuasse o que eles vivenciavam nas senzalas: a violência e o desrespeito ao ser humano. Bezerra fez esse alerta em 1869, no livro “A escravidão no Brasil e as medidas que convém tomar para extingui-la sem dano para a nação”, Quem sabe esse livro não sensibilize as pessoas, para que entendam que os reflexos da escravidão, da exclusão, da falta de amor ao próximo estão mais visíveis que nunca em nossa sociedade? Continue sua campanha, Dora, porque precisamos de pessoas com uma visão humanista e pacificadora! Que os bons Espíritos te inspirem sempre! Um abração
19 maio, 2013 at 9:21 pm
Bela lembrança, Luzia! Creio que não atendemos a esse alerta e ainda esses irmãos sofrem pelas ruas, sofrem sem rumo e edução moral e espiritual. Obrigada, Dora por nos fazer refletir sobre isso. Abraço fraterno a todos.
18 maio, 2013 at 2:09 pm
Concordo plenamente com a irmã Luiza Helena. Continuar esta campanha é mais do que direito. É dever de todos nós. Somos uma única família, cada um de nós nascidos em lares biológicos diferentes, porém, somos criaturas de um mesmo Creador. Somos todos irmãos. Se alguns não tiveram acesso a educação, cabe àquele que se apresenta em melhores condições auxiliar aquele irmão mais desvalido. Afinal o que levaremos deste polissistema material senão todo o conhecimento e bem que fizermos? Nossa consciencia será sempre nosso juíz. Portanto, lutemos por melhores condições na educação, para termos homens melhores, homens de bem. Um grande abraço. Continue sempre lutando por um mundo melhor.
18 maio, 2013 at 8:10 pm
Que inspiração! Parabéns!
19 maio, 2013 at 8:34 pm
Lindo! Tocante! Vibrante! Profundo!
19 maio, 2013 at 8:34 pm
Meus parabéns! É isso aí! Emocionante!
23 maio, 2013 at 10:42 am
linda forma de manifestar a sua indignação contra a injustiça social, de maneira melodiosa e sincera. Parabéns. Conseguiu tocar muitos corações.
27 maio, 2013 at 10:06 pm
A poesia toca a alma, é a linguagem que atinge nosso coração. Justiça, paz, igualdade, ideais de mundo, ideais de vida. Continue a auxiliar nosso entendimento em questões tão fundamentais.
29 maio, 2013 at 3:38 pm
Muito bom, educação já.
22 junho, 2013 at 10:37 am
Belíssimo poema, Dora! Despertando a linguagem dezenovista e o espírito da justiça! Parabéns e grande abraço! Rodrigo da Rosa (Turma 2013 de pedagogia espírita).
14 outubro, 2014 at 12:37 am
Belíssimo poema, bastante oportuno. Parabéns pela sua citação, especialmente em um momento tão delicado quanto o que estamos vivendo. Que os bons Espíritos continuem a te iluminar o pensamento para nos ajudar a distinguir o bem do mal, o certo do errado, enfim, o ódio que destrói, do amor que edifica.