Manifesto pelo colo

Para os tecnicistas desumanizados de plantão, para os que medicalizam a educação, para os que não querem ter trabalho ao cuidar das crianças, para os que temem se envolver emocionalmente com bebês e crianças (como se isso fosse possível e desejável!), para os que colocam as regras institucionais acima das carências humanas, para os que não entendem nada do sentimento humano de aconchego… para esses que negam ou acham que devem negar ou mandam que outros neguem o sagrado dom do colo para as crianças, vai esse manifesto poético.

Bebês precisam de colo, crianças precisam de toque e carinho, suavidade e afeto. Todos precisamos. Mas a criança precisa disso para se desenvolver bem, saudável, confiante, tranquila. Não se acostuma mal a criança por se dar colo. Ao contrário, acostuma-se mal quando não se dá. Ela experimenta a sensação de abandono, frieza, desconforto. Não se sente amada e protegida. Como nos comunicamos com um bebê? Em primeiro lugar através do toque, do abraço, do afago; depois da tonalidade amável e doce da voz… Precisamos recuperar essa sensibilidade instintiva que a nossa civilização tecnocrata abafou e proibiu.

Sim, bebês e crianças pequenas querem, pedem e precisam de COLO! Vamos oferecer o nosso e isso nos fará muito bem!

A semente que será
Árvore vinda do solo,
O que é que a terra lhe faz?
Acolhe-a e lhe dá colo!
 
As aves que vão e vêm
No mundo de polo a polo,
Nos ninhos sob suas asas
Aos seus filhotes dão colo…
 
A cadela vigorosa
Com que no jardim eu rolo,
Como mãe se transfigura,
Lambendo a cria, dá colo!
 
O pinguim na fria neve,
A águia em seu voo solo,
A leoa na campina,
Aos seus rebentos dão colo!
 
E eu como humano adulto
Se em sofrimento me esfolo
Que mais queria ganhar
Que um quente e materno colo?
 
Filhotes, crianças, homens,
Tudo o que vive e respira,
Quer aconchego e carinho
E não dureza que fira!
 
O bebezinho quer colo
E a criança, ser tocada
Porque é só no pele a pele
Que se saberá amada!
 
Não há choro, não há dor
Nem birra, nem gritaria,
Que um toque suave e terno
Não transforme em calmaria!
 
A criança respeitada
Acalentada, cuidada,
Acolhida o tempo todo,
É criança equilibrada!
 
Nada de teses frias
E os adultos no embaraço!
A criança quer afeto
Com toque, beijo e abraço!
 
Para fazermos do mundo
Um lugar acolhedor,
Saibamos dar às crianças
O nosso colo de amor!
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18 respostas para “Manifesto pelo colo

  • Helena De Pontes Almeida

    Poema maravilhoso, Dora! Parabéns e obrigada pela luta constante para conscientizar a todos quanto a necessidade de afeto na educação. É incrivel, mas em pleno 2012 muitos ainda ignoram isso… Beijão grandão no coração!!!

  • Ivana Luiza Zucchi

    Bom Dia, Dora!
    Fiquei emocionada, que bela imagem… linda mensagem, perfeita..como o amor é!Que Deus te abençoe, ! abraço

  • Liana

    Dora,

    Bom dia!Gosto muito do seu blog.Todo dia entro nele para ver as atualizações.Fico esperando anciosamente as suas reflexões.
    Parabéns!
    Liana

  • Mário

    manifesto apoiado em todas suas letras e teses….

  • H. Leonel Vieira Filho

    Apoiado!!! Acrescento que, às vezes, até adultos necessitam de colo, o colo do acolhimento, da empatia, da compreensão e do carinho. Mas para as crianças é tão fundamental como o alimento material…

    Abração, Dora!

  • teacheranalu

    Olá Dora, maravilhoso, tocou-me profundamente. Parabéns!!!!

  • roseli marques shigematsu

    Querida Dora,

    Que sintonia!Tenho conversado muito sobre isso com as minhas cunhadas que têm netos.Chamo isso tudo que você tão poeticamente colocou, de reassegurar, acolher.Como é importante aos seres humanos essa possibilidade de alento num mundo de relações impessoais e descartáveis quando reencarnam e são ainda tão frágeis.Quanto isso ajuda esse ser a evoluir e ter forças para cumprir sua jornada reencarnatória, as vezes cheia de provas difícieis de passar.
    Minha alegria em conhece-la cresce a cada dia.Como temos sentimentos comuns em relação a vida!Fico alegre também quando percebo as crianças da família e mesmo aquelas que sequer conheço,sendo cuidadas e tratadas com afeto, atenção e pessoalidade.
    Nosso planetinha azul será um lugar maravilhoso de se viver quando cada criança que nascer tiver esse momento celebrado por toda a comunidade além dos pais e familiares.Quando cada um de nós nos sentirmos verdadeiramente responsáveis pela felicidade um do outro, aí sim, poderemos dizer que somos verdadeiros seres humanos.Por enquanto, vamos arregaçar as mangas e continuar trabalhando, com alegria e esperança, para ver esse dia raiar.
    Que Jesus e seus mentores continuem te amparando e protegendo para que continues esse trabalho tão importante para a formação de pessoas preparadas para dar colo.Que venham as crianças e que ofertemos nosso colo!

    Beijos

  • Sueli rodrigues Gualtieir

    Quando comecei a fazer o curso de Pedagogia o prof de Psicologia nos apresentou Winnicott pediatra e psiquiatra inglês que estudou a importância do ACOLHIMENTO e numa das aulas o prof disse-nos que necessitamos ser o meio ambiente acolhedor aos bebês e crianças para que possam se desenvolverem física e psiquicamente sadias. e concluiu “TODOS NECESSITAMOS SER ACOLHIDOS EM QUALQUER IDADE, POIS A VIDA É SEMPRE DIFÍCIL”
    PARABÉNS DORI, NECESSITAMOS POPULARIZAR , DIVULGAR ESTAS IDEIAS. QUE TAL UM ABAIX0 – ASSINADO EM APOIO? e assim multiplicar por pessoas e mídias. Que você acha???

  • Lygia

    Obrigada pelo seu trabalho Dora. Gostaria se possível que você escrevesse um pouco mais sobre as questões éticas que tem envolvido a mediunidade e os médiuns da atualidade. Estou bastante assustada com a falta de pensamento crítico e o quanto pessoas de bem tem sido envolvidas sem conseguir perceber ou mesmo se posicionar diante da força da idolatria. Muitos “médiuns famosos” já não tem mais limite entre a vida pessoal, profissional e espiritual. Divulgam o trabalho profissional junto com o trabalho doutrinário e inclusive divulgam seus cursos pagos para as mesmas pessoas que compram seus livros mediúnicos. Por trás de palavras bonitas escondem faltas morais graves e dão palestra sobre o assunto como se estivessem em paz, para os problemas morais ao invés de edução emocional e tratamento, dão palestras para os outros. Vivem da estrutura editorial que se monta para os livros espíritas psicografados e autorais, às vezes a família inteira vive dessa estrutura que por ter obrigações comerciais precisa ter um livro mediúnico novo a cada temporada….com ou sem a participação dos espíritos de bem.
    Permitem-se serem colocados em um patamar daquele que “tudo sabe” arregimentando milhares de seguidores, participando de eventos que passam a ter características de entretenimento, reunindo caravanas que já não conseguem mais escutar a sabedoria da própria alma…. Enfim, muito triste e preocupante….. parece que tem piorado ao invés de melhorar…. Espero que você possa nos ajudar a refletir melhor sobre isso tudo. Um abração …Lygia

    • Dora Incontri

      Querida Lygia, concordo inteiramente com você e essa questão eu tenho exposto em minhas palestras e em nossas aulas de pós-graduação de Pedagogia Espírita. A grande praga do movimento espírita brasileiro é essa! Os médiuns se tornaram gurus universais, pronunciam-se sobre tudo, falam de depressão, física quântica, educação, filosofia… São idolatrados, vivem e se tornam líderes por causa da mediunidade (será que todos são médiuns mesmo ou será que conservam a mediunidade, se a tiveram um dia?). Kardec sequer colocava os nomes dos médiuns que trabalhavam com ele. A pessoa, se tiver que exercer uma liderança, deve ser por seus dotes, conhecimentos, capacidades próprias! Ora, a mediunidade é uma intermediação. Eu mesma sou médium, mas só dou cursos, faço palestras e tenho uma liderança no campo da Educação, no qual tenho mestrado, doutorado e pós-doutorado! Outra coisa terrível, que contraria os princípios sobre os quais Kardec ergueu sua metodologia de pesquisa mediúnica é que, justamente por serem gurus, estrelas, líderes inquestionáveis, os médiuns não submetem o que escrevem a nenhum crivo crítico. Ou seja, os livros mediúnicos atualmente, em sua maioria, são uma grande salada mística, sem consistência – livros comerciais, para vender. E ninguém exerce uma crítica sobre eles. E, no entanto, dizia Kardec no Livro dos Médiuns: “o melhor médium é o que menos se engana!”. Ou seja, TODOS os médiuns (e incluo o próprio Chico Xavier nisto) estão sujeitos a enganos! Enfim, tudo isso se dá porque o Espiritismo no Brasil se tornou um movimento meramente religioso, sem nenhum critério de racionalidade e cientificidade (que era a proposta de Kardec) e agora também se tornou um grande filão comercial, que as editoras exploram. Mas quando a gente publica livros bons, sérios, com consistência, que difícil levar adiante! Vamos continuar mesmo assim, trabalhando por um Espiritismo sério, crítico, que não se apoie em falsos gurus e falsos profetas! Um abraço! Dora

  • H. Leonel Vieira Filho

    Concordo plenamente com vocês, Lygia e Dora! Acho difícil reverter esta mitificação dos médiuns e das comunicações mediúnicas, mas não impossível. Se um livro ou mensagem for atribuída a um espírito, independente da qualidade ou coerência tende a ser mais valorizado e aceito do que um artigo ou livro de boa qualidade de um escritor espírita sério. Apenas por ser “mediúnico”, como se o desencarne por si só tornasse as pessoas sábias… Veja-se, por exemplo, “comunicações” de celebridades, cujas realizações artísticas rivalizavam com excessos em bebidas, drogas e sexo. Concordo, Dora, o Espiritismo no Brasil vem se tornando apenas mais um movimento religioso. Conceitos espíritas estão virando dogmas e as comunicações de alguns espíritos, embora respeitáveis, tem sido consideradas praticamente infalíveis. São, assim, aceitas sem um crivo racional sério. Uma das grandes contribuições de Kardec, a abordagem racional crítica do mundo espiritual e dos valores morais, nos moldes iluministas, está se perdendo no Brasil. Porém, algumas ilhas ou oásis de reflexão ainda se mantem. E são estes que seguram um pouco a onda (que às vezes parece um tsunami) de obscurantismo.

  • Edna Justino

    Que beleza de poema. Trabalhei em uma escolinha infantil, ( berçario), onde eu sentia a necessidade de colo daqueles pequenos seres abençoados por Deus. E não era só isso, mas a minha necessidade em ser abraçada por eles tambem. A troca de energia entre seres completando em um o que faltava no outro. Infelizmente nossos tecnocratas com suas regras frias, fazem com que crianças sejam apenas numeros e sobrenomes em um lugar frio e sem sentimentos em que se transformaram nossas escolas.

  • Teresa

    Fiquei muito emocionada com o texto…O colo fortalece e aquece…

  • Paulo Cesar

    Muito agradecido. 😉

  • Maria das Graças

    É o que tenho abordado bastante com mães que comparecem no C. Tutelar, conscientizando-as da necessidade do carinho, da atenção do aconchego para melhor relacionar . Parabéns pela texto e que ele alcance muita gente…

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