Era ainda uma menina
Nunca cresceu inteira
Sempre atropelada
Por golpes e ditaduras
No sangue das torturas.
Criança abusada, comprada
Que sempre fez as vontades
Dos senhores da casa grande.
Mas mesmo pelas metades
Dava ainda uma esperança
De não mais morrer criança.
Passados só 20 anos
De uma nova tentativa
De não ir mais à deriva
Eis que de novo os amos
Dos antigos engenhos
Mostram os dentes ferrenhos
De mãos com a velha vadia
Dessa mídia sempre a postos
Para trair a verdade!
Eis que de golpe em golpe
Vão matando essa menina
A fraca democracia.
Ameaçada pela bala
Pela Bíblia (quem diria?)
Pelo antigo latifúndio
Pela caserna fardada
E pelo abismo profundo
Entre a mansão e a senzala!
Os mandantes usam toga
Ou então traficam droga
Ou habitam o hemisfério norte!
E com cínica maestria
Tripudiam sobre a justiça
Rasgando a soberania,
Decretando a pátria morte!
Invoco o poeta mulato
Que exclamava estupefato
“E existe um povo que a bandeira empresta
Para cobrir tanta infâmia e covardia!”
E a musa lhe chorava a escravidão.
Ainda sob essa bandeira enxovalhada
Geme e chora a multidão.
Cada vez mais sem socorro e educação!
Chora a musa, chora Castro Alves
Chora Paulo Freire, chora Chico Mendes
Chora esquartejado Tiradentes,
Chora Anísio, Darcy e tantas gentes
Que sonharam justiça e liberdade!
Choram as desaparecidas, as torturadas
Choram Marielle e Dorothy assassinadas
Choram os guerreiros e as guerreiras
Que carregaram já amarfanhadas
As mais justas e mais altas bandeiras!
E nós que aqui estamos, o que faremos?
Chorando, resistiremos!
Indignados, avançaremos,
Fortes, jamais nos dobraremos!
Um dia a justiça se erguerá
E o amor soberano se fará!
5 abril, 2018 at 7:56 pm
Lindo Dora. Cada vez te admiro mais.
6 abril, 2018 at 12:07 pm
Eu também, Herbert
7 abril, 2018 at 11:41 am
Eis a poesia dolorosa do retrato do nosso País.
13 maio, 2018 at 10:54 am
Perfeito!
20 novembro, 2018 at 5:02 pm
Dora Incontri
Desejo a você muita Paz!
Sou espírita, ator, poeta/declamador, escritor com 3 livros publicados: 2 romances e um de poema em prosa. Em 2019 vou publicar o 4o romance.
Tive o prazer de receber em meu zap, hoje, 20-11-18 seu poema: “Réquiem para a Democracia Brasileira”.
E nesta data vou declamá-lo no II Seminário da Consciência Negra – Diversidade étnico -racial, história e educação: Reflexões acerca do racismo e da discriminação – UNEB.
Parabéns!
E obrigado por essa preciosidade!
20 novembro, 2018 at 5:51 pm
Muito obrigada! Um abraço!
26 novembro, 2018 at 11:48 am
É confortante ver que o espiritismo de Kardec não morreu, apesar de vozes místicas de médiuns que representam a casa grande e valorizam o conservadorismo brasileiro deturpando a doutrina. Ver um Chico Xavier apoiar a ditadura militar e Collor de Mello. Ver um médium, chamado Carlos Barcceli num vídeo de um congresso em Uberaba dizendo a um canadense que sentia pena dele morar no Canadá por não ter pobres, pois não tinha oportunidade de fazer Caridade. Outro dia presenciar Divaldo Franco apoiar lava jato, Doria e Bolsonaro. Putz, uma legião de Rasputins que não têm nada a ver com a doutrina de Kardec. O que resta são vozes isoladas de uma Dora Incontri, Sérgio Aleixo e Alysson Mascaro.
26 novembro, 2018 at 7:44 pm
Quero desculpar pela indignação, o ímpeto veio ao ler a poesia. Nao queria entrar nesta polemica, apesar de continuar com o meu pensamento e indignação. Na verdade tentei até deletar meu comentário anterior para evitar polêmica, no entanto, não consegui.
É triste ver algumas referencias do movimento espírita brasileiro ser agente e tomar partido no retardamento do progresso usando a doutrina. No entanto, é esperançoso ter espíritas na vanguarda dos ideais mais progressistas e avançados da sociedade.
7 outubro, 2019 at 2:39 pm
Perfeito.