Ateísmos, teísmos e fanatismos

Um documentário feito por alunos de Comunicação Social numa Universidade do Rio Grande do Sul, defende o direito dos ateus e fala sobre a discriminação sofrida por eles. Abaixo, uma reflexão que fiz a partir desse vídeo!

A mais recente vitimização social é  a dos ateus – declaram-se perseguidos, incompreendidos e discriminados. Em primeiro lugar, quero deixar claro, que reconheço a legitimidade do ateísmo e obviamente advogo o direito de cada um crer ou descrer, da maneira que lhe aprouver, pois nada há de mais sagrado do que a liberdade de pensamento.

Entretanto, um dos trabalhos a que me dedico é o do diálogo inter-religioso e, poderia então acrescentar, o diálogo entre religiosos e não-religiosos… Afinal, o eixo para uma sociedade mais justa, plural e fraterna, está na convivência pacífica e respeitosa entre diversos pontos de vista. Nesse sentido, portanto, temos que analisar o que nos afasta e o que nos aproxima do diálogo, e isso deve ser feito por todos os interlocutores.

Antes de mais nada, um diálogo tem que ser honesto – o que chamo de honesto inclui não fazer generalizações simplistas. Por exemplo: religiosos dizerem que ateus não têm moral. Ou, do outro lado, ateus se referirem a Deus numa generalização pobre de seu conceito.

Explico-me: o que esses ateus do vídeo acima estão combatendo (ou dizem descrer) é um deusinho bem vulgar, antropomórfico, que anda pulando na boca de pastores fanáticos. Não é de jeito nenhum o Deus de Platão, Aristóteles – que eram pagãos. Não é o Deus de Avicena – que era islâmico, nem de Maimonides, judeu. Não é nem mesmo o Deus de São Tomás de Aquino, cuja doutrina é oficial da Igreja Católica. É o deus dos inquisidores, mas não é o Deus de Giordano Bruno, que foi queimado pela Inquisição, mas aceitava um Deus cósmico, infinito.

O primeiro grande engano é considerar que Deus é apenas um assunto de religião. Desde antes do advento do cristianismo, e mesmo muito tempo depois da laicização da sociedade, Deus sempre foi um tema recorrente na filosofia. Descartes, Spinoza, Leibniz – mais recentemente, Bergson, Buber ou Scheler, têm concepções de Deus diferentes entre si e muito distantes desse deusinho punitivo, vingador, que manda os ateus para o inferno, esse deusinho que pregam os seguidores de um Edir Macedo da vida.

O outro grande engano é dizer que a ciência é ateia. A ciência não pode se pronunciar – e nem se pronuncia – nem contra, nem a favor de Deus, pois Deus nunca foi seu objeto de estudo e pesquisa. O que há são concepções de universo e de mundo que se afinam ou não com uma dada concepção de Deus. E o que há são cientistas ateus e cientistas não-ateus.  Eis tudo.  E a ciência moderna, nascida justamente com os grandes astrônomos, Copérnico, Galileu, Kepler, Giornado Bruno, não nasceu ateia, porque esses pensadores consideravam que conhecer o cosmos, estudar as constelações, enxergar a ordem matemática imanente no universo, era uma forma de decifrar Deus, seu projeto cosmológico inteligente e articulado. Há cientistas contemporâneos célebres que também são teístas – veja-se Albert Einstein e Max Planck.

Portanto, não dá para discutir Deus honestamente de forma maniqueísta:

De um lado: cientistas, filósofos, pensadores progressistas, defensores da liberdade, personalidades “fortes” que não precisam de apoio “sobrenatural” – ATEUS.

Do outro lado: religiosos, fanáticos, conservadores, inquisidores, ingênuos, que precisam de uma muleta, que se assemelha ao Papai Noel e ao coelhinho da Páscoa – TEÍSTAS (considerando-se teísta qualquer um que tenha uma concepção de Deus).

Assim como não dá para fazer o inverso, demonizar os ateus e santificar os religiosos!

O caso é que a intolerância, o dogmatismo, o patrulhamento ideológico são males humanos, e vicejam nos teísmos, nos ateísmos, em todos os ismos do mundo. Citemos o exemplo de dois autores mencionados no vídeo em questão: Freud e Marx. Os dois, que deram contribuições históricas importantes e algumas delas ainda atuais, eram campeões da intolerância. Freud costumava excomungar violentamente os que se afastavam algum milímetro da ortodoxia psicanalítica. Veja-se o caso de Jung. Marx não era menos autoritário. Bakunin (ateu como Marx, mas um dos líderes do pensamento anarquista) reclama do patrulhamento ideológico a que os anarquistas foram submetidos durante a 2º Internacional. E não podemos nos esquecer o que aconteceu com eles (os anarquistas) na Revolução Soviética – massacrados todos pela intolerância bolchevique.

Com tudo isso, estou apenas querendo demonstrar que se há religiosos fanáticos e intolerantes, há também ateus que agem do mesmo modo. Basta estar no poder.

E por falar em poder, devo mencionar a seguir o reduto da intolerância ateia no mundo contemporâneo: o mundo acadêmico. Se na mídia, temos pastores vociferando contra “pessoas sem Deus no coração”, nas universidades, intelectuais que ousam pensar Deus, mesmo de forma filosófica, são estigmatizados e congelados. Eu mesma teria uma série de episódios a narrar, mas não interessa aqui citar nomes e instituições. Poderia falar de concursos, análise de publicações, pareceres sobre livros etc… em que minha posição de espiritualista, teísta, espírita, foram razões explícitas ou implícitas de discriminação e exclusão. Ou seja, se entre a população que ovaciona  Padre Marcelo e Edir Macedo, há um discurso demonizando ateus, entre a população acadêmica – sobretudo na área de Filosofia (a despeito de filósofos de todos os tempos terem discutido Deus), há uma atitude de ridicularização em relação aos que propõem um conceito teísta de vida. É tão desrespeitoso e dogmático, alguém se arrogar o direito de dizer que outra pessoa vai para o inferno, porque pensa diferente, quanto considerar uma argumentação filosófica séria e honesta a favor da existência de Deus, como uma patacoada imbecil sobre o coelhinho da Páscoa!

Aliás, mencionei a intolerância de Marx e Freud e poderia citar a de Nietzsche e de Heidegger, dentro dessa mesma linha de raciocínio. O problema de todos esses autores foi justamente esse (e seu pensamento é ainda predominante na academia): eles não se limitaram a propor uma visão de mundo sem Deus, matar Deus, arrancar Deus da sociedade e do coração humano. Eles pretenderam desqualificar qualquer pessoa que tenha uma visão teísta do universo: para Marx, os que acreditam seriam alienados; para Freud, seriam neuróticos (a religião é uma espécie de patologia psíquica); para Nietzsche e Heidegger, seriam seres fracos, que não têm a coragem suficiente de assumir que a vida não tem sentido, que o universo não tem causa… Convenhamos que não é nada favorável ao diálogo e à convivência pacífica com o outro, qualificar-se a sua posição filosófica ou religiosa, como alienação, insanidade, fraqueza de caráter – em suma, burrice!

Outro aspecto mencionado no vídeo é a Ética: é possível uma Ética sem Deus? Obviamente que sim. Qualquer pessoa que conheça um pouco de Filosofia sabe que há diversas proposições éticas que não se ancoram num conceito de Absoluto – por exemplo, a ética marxista, a ética utilitarista, o humanismo ateu etc…

Mas, daí a dizer que os princípios que esses cidadãos estão defendendo – como fraternidade, igualdade, respeito à vida ou coisa que o valha – não estejam vinculados a nenhuma religião… é um desconhecimento completo de História. Tomemos o conceito de igualdade, por exemplo, esse mesmo defendido pelo marxismo e por todo o ideário dos Direitos Humanos e das Constituições: antes de Jesus, que, para mim não é Deus, mas por acaso também não era ateu, não havia em nenhuma sociedade, em nenhuma filosofia, em nenhuma corrente religiosa, a ideia explícita de igualdade entre todos os seres humanos, independente de religião, casta, raça… Essa igualdade proposta pelo cristianismo (apesar de não praticada por muitos cristãos) deriva de um conceito de filiação divina. Embora no decorrer dos séculos, a ideia tenha sido secularizada e até usada na bandeira da Revolução Francesa, não se pode negar sua raiz cristã. Aliás, um ateu honesto como André Comte-Sponville admite que, embora ateu convicto, há uma impossibilidade histórica para ele, de pensar fora da civilização cristã, na qual cresceu e foi educado, e de que carrega os valores intrinsecamente. Então, embora os ateus digam que não, eles podem adotar e praticar valores que estão enraizados sim numa tradição religiosa, de que descendem. É impossível negar a própria origem. Então, melhor é respeitá-la, assim como eles pedem respeito pela sua posição.

Nota: Quem quiser conhecer mais profundamente minha posição a respeito de Deus, recomendo meu livrinho  de bolso: Deus e deus, recentemente reeditado pela Editora Comenius.

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30 respostas para “Ateísmos, teísmos e fanatismos

  • Daniel Cavalcante

    Estava gostando do seu post enquanto ele fazia, imparcialmente, comparações filosóficas e históricas, mas no momento em que você faz conclusões, ao meu ver simplistas, perde-se um pouco o teor imparcial que ele tinha no início.

    Quando você assegura que ateus têm fundamentações religiosas intrínsecas, justificando tal afirmação com o exemplo da igualdade que, supostamente, nasceu no cristianismo, acaba se precipitando.

    Por exemplo, minha família é católica fervorosa e eu nunca os observei aplicarem, na prática, muito dos valores que tanto pregam. Não fui ensinado sobre igualdade como um princípio religioso, até mesmo porque minha família inteira é racista, elitista, homofóbica, especista e praticante de qualquer outro preconceito que você possa nomear.

    Qualquer pessoa pode vir a ter uma percepção da realidade por conta própria, sem base religiosa. Se eu tenho a percepção de igualdade entre humanos, garanto-lhe que não me foi nada intrínseco do catolicismo e/ou do cristianismo em si. Se, até mesmo, tenho a percepção de que, por exemplo, os demais animais não estão na Terra com o propósito de nos servir, isso muito menos me foi incorporado por outra religião qualquer.

    Se Jesus teve essa percepção há 20 séculos, confetes para ele! Eu tive a mesma na minha adolescência e nem me baseei na dele. Não julgue isso como desonestidade do ateísmo, pois se classificaria como simplismo de análise em suas conclusões.

    Att.,

    • Dora Incontri

      Olá Daniel, eu não disse em nenhum momento que cristãos são mais igualitários que outros… disse do ponto de vista histórico, o conceito de igualdade nasceu com o Cristianismo, na Civilização ocidental. Por exemplo, gregos, egípcios, romanos, mesmo judeus, nenhum dos povos da Antiguidade, jamais tiveram uma noção de igualdade entre os seres humanos. Acho que você interpretou mal as minhas palavras!

  • Ivana Lucena

    Minha querida, sou uma grande admiradora sua, desde que a conheci em uma palestra aqui em Natal, RN. Textos seus são com frequência utilizados por mim para promover reflexões sobre a educação de crianças. Esse tema que agora você discute aqui, está presente em minha vida através de uma filha que tem defendido com veemência o Ateísmo. Eu, que me encontro justamente, no centro dessa discussão, entre a dificuldade em acreditar e, por tanto defender, a existência de Deus e a impossibilidade de aceitar que a minha existência não tenha nenhuma razão para além da minha matéria e raciocínio. Gostaria, humildemente, de convidá-la para me conhecer um pouco mais em meu Blog http://mulhermaeprofessora.blogspot.com/ talvez colabore de alguma forma para me auxiliar nessa busca por respostas. Será uma honra receber algum comentário seu a respeito dos meus textos. Aguardo e almejo voltarmos a conversar novamente depois.

  • Elvio

    Na minha opinião muitas vezes os que se dizem ateus, sao menos ateus do aqueles que pregam um Deus milagroso e punitivo, na verdade eles estão buscando um Deus que ama e quer o bem da humanidade, e acima de tudo é PAI. Foi isso que Jesus pregou, Porque o que muitas religiões estão pregando, que querem ensinar a ganhar dinheiro e se curar das doenças nao leva a SALVAÇÃO alguma. Se essas pessoas que se dizem “ateus” encontrassem uma verdade que explicasse um DEUS mais logico e com Principios , com certeza elas deiixariam de se denominarem “atéias”.

  • Matheus

    Simplesmente muito bom. Excelente!!!

    Abaixo segue meu blog, e dois textos que ao meu ver de alguma forma corroboram com essa idéia!

    david-m-m.blogspot.com

    Nietzsche e Pastor Marco Feliciano. E agora?: http://david-m-m.blogspot.com/2011/08/nietzsche-e-pastor-marco-feliciano-quem.html

    Universidades públicas aderiram ao proselitismo?: http://david-m-m.blogspot.com/2011/10/universidades-publicas-aderiram-ao.html

    Abraços!!!

  • Mário Joanoni, Toque na Alma, Araras

    As pessoas concentram-se em esquemas fixos com medo de dar um passo além do muro para enxergarem outras realidades, com medo de desconstruírem seus mundos próprios, no qual só elas conseguem habitar, em situação de extremo conforto emocional. No meu modesto entendimento, leio suas análises e vejo, além de sua jornada erudita, idealista e voluntariosa pelo Belo e pelo Bem, reflexos da sabedoria do professor Herculano, que nos ensinou a amar a humanidade, a respeitar os degraus de entendimento, não flertar com as vaidades e a relativizar verdades sem fundamentos. Obrigado pela aula, de sempre. Abraço fraterno.

  • Jorge Massayuki Miyashiro

    Assuntos polêmicos devem ser tratados com equilíbrio. Pode-se colocar a nossa posição, mas não impondo nem esperando a obrigatoriedade da aceitação ou conclusão de quem está certo ou não. Nós temos o livre-arbítreo que vai até o ponto de respeitarmos as escolhas alheias. O importante é sabermos conviver com as diferenças.Deus existe? Que cada um tire a sua conclusão, pessoal, íntima, particular, e que esta conclusão não atrapalhe de forma nenhuma aos outros.

  • Washington Alan

    Quando leio um texto desses, logo vem ao meu socorro Alberto Caeiro (O Guardador de Rebanhos):
    “…
    Mas se Deus é as flores e as árvores
    E os montes e sol e o luar,
    Então acredito nele,
    Então acredito nele a toda a hora,
    E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
    E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

    Mas se Deus é as árvores e as flores
    E os montes e o luar e o sol,
    Para que lhe chamo eu Deus?
    Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
    Porque, se ele se fez, para eu o ver,
    Sol e luar e flores e árvores e montes,
    Se ele me aparece como sendo árvores e montes
    …”

  • Washington Alan

    É um equivoco colossal pensar que a igualdade nasce com cristo.

    A raiz humanista fonte dos Direito Humanos vai além de cristo. É universal. encontra-se presente nos Estóicos, em Epicuro, Sidarta Gautama, Confucio e outros pensadores pre-cristianismo.

    Só para lembrar, os Papas Pio IX e X que condenaram os direitos humanos por serem contrários aos ensinamentos de cristo.

  • Marcos Rosa

    Dora Incontri,
    Sou ateu e concordo que o combatemos é um “deusinho bem vulgar, antropomórfico, que anda pulando na boca de pastores fanáticos”.
    É a crença nesse deus vulgar que interfere diretamente nas decisões do Estado e na restrição de direito das minorias. É essa crença ingênua nos supostos “representantes divinos” e supostas “revelações divinas” com regras de conduta e de comportamento que os ateus tem “combatido”, e desse mesmo grupo que tem sofrido preconceito.

    A crença em um “deus filosófico” é pessoal. É um direito seu acreditar e decidir se quer discutir o embasamento e implicações dessa crença. Você pode encontrar debates, discussões e opiniões contrárias, mas dificilmente você verá esse “deus filosófico” combatido, exatamente porque essa crença não implica em impor regras ou limitar direitos de quem não compartilha sua crença.

    Na minha opinião é uma pena ver pessoas que defendem um “deus filosófico” tentando igualar “fundamentalistas religiosos” com “fundamentalistas ateus”. Não temos interesse em combater seu “deus filosófico” enquanto existir um grupo maior de “teístas” usando “deus” para espancar homossexuais, defender o ensino do criacionismo nas escolas, proibir discussões sobre o direito ao aborto ou à eutanásia, defendendo o ensino religioso confessional, votando em pastores (ou seus indicados) para fortalecer a “bancada evangélica” e impor ao restante das sociedade leis baseadas em suas crenças, etc.

    Não se sinta mal por não ver seu “deus filosófico” sendo combatido, afinal, o movimento ateu deve focar na prioridade que é combater o “deus antropomórfico vulgar”. Não combatemos todos os religiosos de forma maniqueísta… MAS, combatemos a parte dos “religiosos, fanáticos, conservadores, inquisidores, ingênuos, que precisam de uma muleta, que se assemelha ao Papai Noel e ao coelhinho da Páscoa”, assim como combatemos ateus fanáticos, homofóbicos ou que defendam a imposição do ateísmo.

    Pela forma como leio seu post, foi você que se incluiu na classificação maniqueísta de “TEÍSTAS” e está reclamando que as críticas dos ateus são superficiais por não englobarem o “seu” deus filosófico…. Dica: não se incluía nos fundamentalistas ingênuos…

    Abraços, Marcos Rosa

    Obs: Elvio. Você tem uma visão superficial e errada dos ateus.

  • Gustavo Magno Baptista

    Querida Dora;
    O vídeo, bem como o seu comentário, foram muito pertinentes. Digo que adequados ao momento. Assim como você, sou Espírita. Mas não posso deixar de concordar com os autores do vídeo sobre a intolerância. O ateu moderno reivindica a liberdade de pensar sem ser rechaçado. Independentemente se acredita no “deusinho” ou no “Deusão”. Concordo com você que muitos ateus não transcenderam o conceito de Deus. É aquela história do “velhinho de barbas brancas”. Concordo também que eles são intolerantes quando não conseguem diferir a religião de religiosidade. Julgam, espizinham, consideram inferiores e massacram aqueles que tem fé. (quero dizer boa parte, pois uma grande maioria é indiferente se você crê ou não). Aí vem outra parte da evolução pessoal, o fato de não aceitar que a mais simples forma de crença possa ter impacto positivo na vida de uma certa pessoa. Vale salientar que isso ocorre até mesmo dentro da nossa fé, o Espiritismo. Muitos de nossos confrades consideram que outras formas de crença são inferiores. Mais aí é outra discussão.
    Muitos dos ateus modernos consideram que a religião, seja ela qual for, é uma forma de controle da mente. E não deixa de ser, vide as manifestações pentecostalistas que nós mesmos (espíritas) sofremos.
    Enfim, como dizia Voltaire, “posso não concordar com uma só palavra do que digas mas morrerei defendendo o direito de poder dize-las.”
    Advogo aqui o direito de se manifestar sem ser oprimido.
    Um forte abraço
    Gustavo

  • Zilda Santiago Maciel

    Simplesmente sem maiores delongas,TEXTO DE EXCELÊNCIA!Parabéns sempre.Bom te ouvir e bom te ler!!!Bjs na alma!!

  • Leandro Ricardo

    Marcos Rosa falou tudo! Mas vou acrescentar algumas coisas:

    Ninguém no video disse que a ciência é ateia; a fé apenas não combina com o método científico. Muita gente também confunde Estado Laico com “Estado ateu”.

    Mesmo sendo ateu, eu também diria que a ciência é uma forma de conhecer a “Mente de Deus”; Isso não significa que sou teísta. Significa que estou usando “Deus” de forma metafórica.
    Vamos compreender melhor a terminologia: Um teísta acredita num Deus pessoal, que além de criar o Universo, ainda interfere no mundo realizando milagres, ouvindo preces etc. Um deísta acredita num Deus sobrenatural que criou o Universo e suas leis físicas, mas desde então nunca mais apareceu.
    Aliás, Einstein desprezava totalmente a ideia de um Deus pessoal. Ele podia ser tudo, menos teísta.

    Superando essa parte, vamos aos erros mais crassos do texto: A ética não deriva das religiões, MUITO MENOS do cristianismo. Como a Åsa Heuser disse: “A moral foi sequestrada pelas religiões.”

    O ser humano tem bondade por natureza. Mesmo com escravidão e sacrifícios de animais, algumas pessoas percebiam que isso não era ético. Quase a mesma coisa que acontece em nossa época. Provavelmente, no futuro, nossos descendentes dirão: “Como nossos antepassados puderam ser tão estúpidos por não darem atenção ao aquecimento global, a superpopulação, homofobia etc?”.

    Muito antes de Jesus Cristo, já existia Ciro, o Grande. Pra ser exato, 539 a.C.
    Ele anunciou que todos os escravos eram livres. Também disse que as pessoas tinham o direito de escolher suas religiões. Suas palavras foram registradas num tablete de barro, conhecido como “Cilindro de Ciro”. E é considerado o precursor dos Direitos Humanos.

    Nas suas próprias palavras: “é um desconhecimento completo de História.”

    • Dora Incontri

      Olá Leandro, veja-se a irritação das respostas dos ateus! Não os vejo assim muito propensos ao diálogo. Vamos pegar alguns pontos de seu recado (devo agora citar fontes, para tornar meu discurso mais ancorado). Segundo o Dicionário de Filosofia de Abbagnano, “o termo teísta, usado desde o século XVII, para indicar genericamente a crença em Deus, em oposição ao ateísmo” – mais adiante, acrescenta que, para Kant, teísmo se opõe também a panteísmo e deísmo. Para o Dicionário Oxford de Filosofia, teísmo é simplesmente “crença em Deus” – não especificando mais nada. Já o Dicionário de Filosofia de Brugger adota exatamente essa sua definição: de que teísmo é uma crença num Deus pessoal, transcendente e criador. Muito bem, obviamente adotei aqui teísmo no sentido genérico, pois é obvio que são muito distantes e diferentes por exemplo, uma concepção de Deus de Spinoza e de Tomás de Aquino…, de Avicena e Albert Einstein. O que quis demonstrar justamente é que existem infinitas concepções de Deus e os ateus parecem combater apenas essa estreita, dos fundamentalistas! E mesmo para aqueles que admitem um Deus Criador e transcendente, não significa necessariamente acreditar em milagres, punições e num deus antropomórfico. No espiritismo, por exemplo, não se admitem milagres, nem nada que seja “sobrenatural”, mas se admite um Deus, como causa primeira (à moda de Aristóteles, que não era criacionista, mas falava de um Deus transcendente………) Isso tudo quer dizer que o assunto é complexo e não pode ser tratado com o desdém com que muitos tratam, colocando todas as concepções no mesmo saco! É esse desdém altivo e de falsa superioridade que me fez escrever essa pequena reflexão.
      Quanto à questão da Ética, e respondendo também ao seu colega acima, Marcos Rosa, não disse que a Ética deriva do Cristianismo… seria rematada ignorância afirmar isso. O que disse é que certos valores, hoje defendidos por ateus, que fazem parte de nossas leis e Direitos universais, derivaram em nossa cultura da ideia cristã… Há ateus que reconhecem isso, como citei, o próprio André Comte-Sponville, em seu brilhante livro: O Espírito do Ateísmo! Não foram as ideias de Ciro, nem de Confúcio, nem de Buda, que inspiraram os iluministas, ao pregarem a emancipação do ser humano, as constituições modernas… elas foram heranças do cristianismo, herdado em nossas veias. Digo isso, sem desmerecer esses grandes líderes do Oriente, apenas querendo identificar a origem histórica de alguns valores ocidentais.
      E quando falo em cristianismo não estou me referindo a Papas… não é preciso citá-los, porque não sou partidária de nenhuma igreja. Aliás, o problema das Igrejas é que elas muitas vezes contrariam a mensagem cristã em sua essência. Mas isso é assunto para outro artigo!

  • Dora Incontri

    Mais uma coisa, estou achando muito interessante essa postura de alguns ateus, de dizerem que o ser humano tem uma bondade natural. Concordo inteiramente. Mas para mim, isso demonstra a imanência de Deus no ser humano.

  • Gustavo Magno Baptista

    Dora, você é genial!
    O debate neste seu blog está muito interessante. Graças a Deus ainda não apareceu nenhuma pessoa com argumentos superficiais e preconceituosos. Este seu veículo, com a sua credibilidade, é fabuloso.
    Parabéns!
    obs: desde que fiz o curso de Tanatologia encantei-me pela sua retórica e argumentação sóbria.
    obs2: gostaria que você me explicasse o porquê das obras do professor Herculano Pires serem tão difíceis de encontrar. Aqui só tenho “os Filósofos” e gostaria de comprar todas para poder ler com toda calma e paciencia. (pode responder por e-mail, se preferir)
    Muito obrigado

  • Marcos Rosa

    Dora Incontri,

    Vou tentar não repetir o que eu e o Leandro Ricardo dissemos anteriormente, mas gostaria de ressaltar alguns pontos.

    Acredito que é uma falta de conhecimento sobre o movimento ateu achar que colocamos “todas as concepções no mesmo saco”. Não valorizamos (ou até desprezamos) a FÉ, entendida como crença sem evidência, mas o que combatemos são posturas que tentam limitar direitos de minorias, interferir no estado laico para impor regras e limitações baseadas em crenças à toda sociedade.

    O grande problema que vejo refletido nessa sua reflexão é achar que o movimento ateu é tão fundamentalista quanto os crentes fanáticos. Na minha opinião, essa postura defensiva é tipo de “coorporativismo” religioso, que visa de manter as “crenças” como algo intocável e só ajuda a acobertar os excessos cometido pelos os fanáticos.

    Pessoas merecem todo respeito e devem ter o direito de acreditar ou não no que quiserem, mas crenças podem (e devem) ser criticadas, debatidas, questionadas. O movimento ateu não tem nenhuma proposta de propor restrições à crenças ou impor o ateísmo… o máximo que temos proposto é um movimento de valorização da razão e do método científico e temos expressado e defendido nossa ausência de crença (e somos considerados radicais por essa petulância).

    Abraços, Marcos Rosa

    • Dora Incontri

      Olá Marcos, vamos então avançar nesse diálogo: primeiro, devo esclarecer que sou totalmente a favor do Estado Laico, porque só ele pode garantir o pluralismo de ideias e inclusive o pluralismo religioso. Então estamos de acordo nisso. Segundo, no meu artigo, critiquei os fanáticos religiosos, coisa que faço fortemente – e aliás, qualquer pessoa de bom senso faz isso. Terceiro ponto, defendo com o mesmo ardor que vocês a método científico – tenho carreira acadêmica e portanto reconheço e aceito a validade e a necessidade da ciência para o progresso do conhecimento humano. Quarto, logo de início em meu texto defendi o absoluto direito de crer ou descrer de cada indivíduo. O que quis pontuar foi que como uma intelectual “teísta” (no sentido de que tenho uma concepção de Deus), sofri vários preconceitos – da parte de intelectuais ateus. E com isso, desejei mostrar que num determinado nível, ateus sofrem preconceitos de fanáticos da fé e em outro nível, pessoas que têm uma concepção de Deus sofrem preconceitos de ateus…
      E com tudo isso, quis dar uma contribuição para um diálogo honesto e respeitoso entre ateus e não-ateus!
      Espero ter me feito entender!
      Abraços

      • Marcos Rosa

        Dora,
        Estou “invadindo” seu espaço exatamente por identificar os 4 pontos comuns (entre outros que podem ser citados) e mostrar que, apesar de também não acreditar no seu conceito de “deus filosófico” (ou melhor, não acreditamos em nenhum conceito de divindade) o que os ateus “combatem” é a Fé cega, a intolerância e o conceito vulgar de um deus antropomórfico que dita regras que “devem” ser impostas à toda sociedade e não somente aos seus fiéis.

        Mostrar que mesmo sem compartilhar da sua crença, somos capaz de respeitar seu direito de crer e conviver em harmonia com ela, contanto que ela não seja utilizado como “embasamento” para restrição dos direitos de outros cidadãos. Com essa intervenção quero mostrar que, apesar de Teístas (espiritas são Teístas e não Deístas), vocês tem muito mais pontos em comum com nossa “luta” do que as críticas à Fé deixam transparecer.

        Quanto ao preconceito sofrido no meio acadêmico, eu não posso avaliar seu caso, mas não tenho dúvidas de que existem exageros… Mas é essêncial lembrar que qualquer conclusão defendida no meio acadêmico deve ser independente de qualquer crença, sob o risco de termos ciência protestante, judia, muçulmana, espírita, etc.

        Espero ter sido claro e com isso encerro minhas colocações.

        Um abraço, Marcos Rosa

  • Renato Andrioli

    Este post foi INCRÍVEL, a discussão, muito rica. Porque fazemos parte da mesma comunidade (humana) temos as mesmas inclinações independentemente do grupo ao qual pertencemos. É o maravilhoso e da nossa vida humana.

    Perseguir um ideal e viver segundo as convicções é um ato de coragem. Há dogmatismos religiosos, científicos, ateus assim como há fanatismo, discriminação e assim como há respeito, humanidade em todas as comunidades humanas. Não somos perfeitos, algo nos falta, sempre faltará. E isto é o que nos une a todos.

    De certo modo, com base nestas discussões tenho reforçada a idéia de que o mundo de convivência plural que queremos só é possível por meio do DIÁLOGO.

    Meus reconhecimentos e meus parabéns a todos que participaram desta discussão!

  • Clara

    “Sou ateu e concordo que o combatemos é um “deusinho bem vulgar, antropomórfico, que anda pulando na boca de pastores fanáticos”.
    É a crença nesse deus vulgar que interfere diretamente nas decisões do Estado e na restrição de direito das minorias. É essa crença ingênua nos supostos “representantes divinos” e supostas “revelações divinas” com regras de conduta e de comportamento que os ateus tem “combatido”, e desse mesmo grupo que tem sofrido preconceito.”

    E para acabar com representantes divinos” implica necessariamente destruir as crenças dos outros? Existem diversos meios como, por exemplo, não permitir que seus candidatos façam alianças com grupos religioso para ganhar eleições, né mesmo?

    Engraçado como falar do fundamentalismo dos outros é fácil quando o ateísmo só vem crescendo no mundo graça a outros fundamentalismo: o anti-teísmo

    Mas não se preocupem um dia o ateísmo chega lá e vocês irão fazer a mesma coisa que religiosos fazem. Porque discursos de tolerância e todas estas obviedades não se sustentam NO PODER! Ainda de pessoas que nem chegou lá mais já é carregada de ódio

    .. porque ódio, de fato, quem tem sempre são outros.

    • Marcos Rosa

      Olá Clara, Tudo que temos feito enquanto movimento organizado (ou semi-organizado) é expressar nossa opinião. Nosso “combate” é baseado em argumentação e crítica a posturas fundamentalistas… ou você acha que são os ateus que jogam aviões em prédios de crentes? Que lutam para impedir que o Estado reconheça o casamento civil homossexual? Que lutam contra pesquisas com células tronco embrionárias ou contra o uso de camisinha na África? Como bem ressaltou a Dora, é muito bom esclarecer que nem todo religioso e nem todas as religiões suportam as atitudes acima… o que “combatemos” são os fanáticos que utilizam da FÉ para justificar tais atitudes (entenda por “combate” apenas textos criticando tais atitudes).

      Eu acho uma pena que expressar minha opinião discordando das crenças dos teístas seja considerado fundamentalismo e ódio… desculpe, mas pelo meu ponto de vista, respeitar não significa me calar… eu não acredito no seu deus, mas defendo que você tenha todo direito de crer nele e expressar essa crença e eu, de expressar minha descrença publicamente sem ser acusado se ser imoral ou fanático por isso.

      Um estado laico é um estado que respeita o direito de todas as crenças, mas que não trabalha pelo interesse de nenhuma especificamente. Todos os movimentos dos ateus tem lutado por um estado laico, não um estado ateu. Nenhum movimento ateu luta para impor o ateísmo (que só faz sentido quando embasado na razão e no conhecimento).

      Por falar nisso, convido todas as pessoas de bom senso, religiosos ou ateus, para participar da “2° Marcha Pelo Estado Laico em São Paulo”, programa para o dia 14 de Abril. Procurem pelo título no facebook para ter mais informações.

      Abraços,

      Marcos Rosa

  • Luísa Módena Dutra

    O vídeo, o artigo da Dora e os comentários, me fizeram pensar um pouquinho sobre o debate, sobra importância do diálogo…

    O diálogo honesto é o que nos faz crescer enquanto pensadores livres e componentes fundamentais da evolução de uma sociedade. Realmente esse diálogo exige muita prática, já que não estamos acostumados, de um modo geral, a basear as nossas idéias, palavras e atitudes em vontades, pensamentos e sentimentos originais.

    Como tão bem explicou Eric Fromm, é preciso praticar a atividade espontânea da personalidade, aquela que me coloca em verdadeiro contato comigo mesmo, com o outro e com o mundo e a natureza.

    Atualmente é muito comum ouvirmos falar em tolerância às diferenças. No entanto, quando enfatizamos o respeito e a compreensão no diálogo não só falamos sobre as diferenças, mas também falamos sobre o que nos une.

    Nas experiências que tenho tido no Canadá, um país regido e suportado pelas suas leis, onde as minorias são protegidas por vários direitos legalizados (e quase todos têm consciência desses direitos e brigam se necessário para que eles sejam garantidos), tenho sentido que é esse estado de tolerância que impera. Mas não há troca e diálogo verdadeiro entre as diferentes culturas, crenças, religiões… As diferenças se toleram, como a lei manda.

    Acredito que o Estado ideal seria aquele em que a lei realmente garanta isso. O Estado Laico em que nenhuma crença, idéia, sentimento ou vontade sejam impostos. No entanto, seria também aquele que ao mesmo tempo oferece um campo fértil ao debate inteligente, em que todos possam ter contato com as mais diferentes formas de pensamento e a partir daí identificar o que lhe é particular. E que isso inclua o conhecimento das diferentes culturas, religiões e posturas filosóficas de forma íntegra, ou seja, a partir do que é real e verdadeiro para cada uma dessas diversas vertentes.

    E, finalmente, para que esse campo fértil dê frutos produtivos e belos é necessário que cada homem que faz parte desse dialógo possa entrar em contato profundo com a sua própria individualidade. Voltando ao Fromm, não em uma atitude egoística, mas ao contrário, de entendimento da sua parte no todo.

  • Tati Quaglio

    Em resumo: um documentário totalmente parcial, arbitrário e proselitista. O pior, na minha opinião, é ver que foi “respaudado” por uma instituição educacional e pela área de comunicação social. Infelizmente não é uma causa apenas de uma instituição e de muitas.
    Precisamos ter fé racionada, crer que isso é apenas um momento no processo evolutivo e que todos passamos por ele. É fazer a nossa parte e preocupar-nos em fazer o “bem” e transformar o “mal” dentro das nossas possibilidades.

  • Armando Costa

    O ponto central do tópico está no minuto 14’53” – “A ética foi sequestrada pela religião”. O grande sucesso da religião cristã foi justamente sequestra-la. Desta forma, com misticismo, ficou fácil doutrinar as massas a agirem com ética, independente se a definição de ética é “dar a Cesar o que é de Cesar” (muito conveniente para os governantes) ou “amar o próximo como a ti mesmo” (um conceito realmente ético).

    A proposta dos ateus é muito difícil de ser vendida: de que o homem não precisa de religião para ser ético. A imensa maioria das pessoas tem dificuldade de aceitar isso. Daí o preconceito.

    Me arriscando a defender o Datena, quando ele fala “falta Deus no coração” na verdade ele quer dizer “faltam valores morais na cabeça”. Há de concordarem que a primeira frase é muito mais poética e convincente.

  • José Affonso de Almeida Gomes

    Professora, parabéns pelo texto, e parabéns também pelo espaço concedido para o diálogo franco e honesto, como falava o professor Allan Kardec “discutiremos mas não disputaremos”. Sou Espírita e acredito num Deus da concepção Cristã(um Deus Pai, presente, ativo e preocupado com os seus filhos) e não em pseudo religiosos que se dizem cristãos. o amor de Deus se expressa principalmente na liberdade que ele nos dá, até mesmo para contestá-lo.
    um grande abraço a todos.

  • Paulo Cesar

    Muito agradecido. 😉

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